em construção permanente






quarta-feira, 25 de maio de 2011

A pequena história de um grande escritor revolucionário


Eu não conseguia terminar de escrever nenhuma história no mesmo dia em que a começava.
Minha casa não tinha tanto espaço, eu chegava tarde do trabalho e as crianças iam para a cama tarde da noite.
Minha mente fervia em um caldeirão cheio de idéias e eu não conseguia aproveitá-las no momento que brotavam na cabeça. Depois, com o passar do tempo, acabava esquecendo e isto se tornava um problema.
Foi dentro do banheiro, sentado no vaso sanitário, fazendo minhas necessidades vitais que descobri o lugar que tanto almejava encontrar.
O perfeito isolamento do mundo em pouco mais de dois metros quadrados.
Todo escritor precisa de um isolamento físico durante sua produção literária, nem que seja por apenas alguns minutos. E dentro do meu próprio banheiro encontrei o meu.
Passei a escrever meus contos e minhas poesias trancado dentro do banheiro por pelo menos uma hora por dia. Antes disso eu só fazia palavras cruzadas para aproveitar o tempo.
Com o passar dos dias, passei a escrever nas portas dos banheiros de bar, completando os recados que as pessoas deixavam. Acredito até que foi daí que alguém teve a idéia do Twitter.
Para mim, esta nova experiência era inovadora e revolucionária. Um mês depois desta descoberta eu praticamente havia virado um escritor de banheiro. Minhas histórias cresceram junto com a minha técnica e, desta forma, desenvolvi uma característica peculiar de como eu enxergava o mundo. Tudo que escrevia estava mais real e a ficção que antes era uma marca registrada na minha escrita, havia descido descarga abaixo.
O grande detalhe desta descoberta foi que toda pré-elaboração de um texto vinha de uma pós-cagada. Sendo assim, antes de começar a digitação, era necessário fazer uma limpeza intestinal. Este era o grande segredo. Eliminar todas as más idéias junto com o que o nosso corpo não quis absorver para o nosso organismo.
Meses depois minha mulher começou a implicar por causa da demora no banheiro, afinal, ela também tinha as suas necessidades que demoravam tanto quanto as minhas.  Eu lhe pedia paciência, pois não podia abandonar um texto logo após uma exuberante cagada. Por algum um tempo ela entendeu, mas depois a situação começou a ficar insuportável. E para continuar
com o meu intelecto refúgio e não privatizá-lo tanto assim, meus textos passaram a ser mais curtos.
Conseqüentemente o tamanho da massa que compunha meus troços também diminuiu. As fezes escorriam através do meu intestino grosso com mais facilidade e minhas idéias fluíam como um Tsunami, aumentando minha produção literária.
Depois que tive vários textos publicados na internet revelando seu local de origem, muitos leitores e outros escritores passaram a assinar onde escreviam suas histórias e, para a minha surpresa, a grande maioria também tinham a mesma origem. Assim, uma legião de escritores de banheiro surgiu no mundo inteiro, principalmente no Brasil.
Muitos adeptos passaram a me escrever constantemente agradecendo pela tal descoberta.
Anos mais tarde, depois de grandes “Best-Sellers” saírem de dentro de um banheiro, na capital do nosso país, um grupo de escritores de banheiro decidiu fundar á Academia do Banheiro de Letras, que tinha como o seu principal objetivo defender e premiar as obras com maior relevância no cenário nacional. Fui nomeado presidente de honra da entidade e uma vez por semana, sempre na quinta-feira, nos reuníamos para discutir os rumos da nossa arte com a intenção de colocá-la no seu devido patamar.