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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Lágrimas da violência



  Depois de cobrir o show dos Racionais na Virada Cultural estive diante de uma cena da verdadeira violência que existe em São Paulo e não essa ocorrida que alguns estão gozando de tanto falar. Um jovem rapaz visivelmente embriagado e mostrando certa raiva chorava feito criança colado na grade que dividia a área entre o público e a imprensa/convidados. Aos prantos ele pedia desesperadamente para falar com o Mano Brown. Dizia que o Brown era foda e que amava ele. Um dos seus quatro colegas pedia para ele parar com aquilo e irem para casa, mas o rapaz com os olhos vermelhos de tantas lágrimas lutava contra a vontade do seu colega e insistia em falar com o Brown. Enquanto isso, entre o público e as pessoas  que deixavam a área reservada, alguns achavam graça e outros sacavam seus Iphones e Smartphones para registrar com um sorriso no canto da boca a rebeldia do rapaz. "Ele esta muito bêbado", diziam alguns. Até então eu não sabia, mas sentia que havia algo diferente no choro daquele rapaz. Foi quando, após alguns minutos que eu estava presenciando a violência da queda das lágrimas, o rapaz revelou aos gritos o real motivo de tanto desespero para falar com o vocalista do grupo Racionais Mc´s. "Meu irmão morreu. Mataram meu irmão esta semana!". O irmão morto tornou-se por alguns instantes meu também.
  Mano Brown havia feito um discurso durante o show protestando contra os Malandros que foram a Virada Cultural apenas para roubar e arrumar confusão (quebrando a cara de quem acredita que ele só defende um lado). Sujeitos que em muitos casos são ouvintes da mensagem que o grupo Racionais passa, mas com tão pouco acesso a cultura e educação não conseguem construir um pensamento capaz de entender a declaração contra a violência que o grupo faz e acabam levando aquilo como um grito de guerra contra a burguesia. Digo isto por que já ouvi muita gente falando que o grupo incita a violência e quem ouve Racionais é ladrão. Enfim, cada um com a sua crença.
  Os gritos de "Eu preciso falar com o Mano Brown" continuavam cercado de lágrimas, mas o rapaz percebendo que não conseguiria tal feito, perdia suas forças contra o seu insistente amigo e a esta altura o Instagram devia estar "bombando" com a sua imagem, imaginava eu. Ninguém fez por nada ele. Eu não fiz nada. A sociedade inteira não fez e não fará enquanto o pensamento elitista for a base da filosofia da sociedade que escreve no Facebook, Twitter, jornais e blogs.
  Toda a violência ocorrida nesta Virada Cultural vem do dia-a-dia que cada um de nós vivemos nesta cidade e sua manchete em pauta hoje, trata-se apenas da sua concentração em um final de semana. Todos os dias celulares são roubados. Todos os dias o álcool é vendido. Todos os dias as drogas são consumidas. Todos os dias a violência esta presente. Por que não a criticamos todo instante e exigimos das autoridades cultura e educação diária? Eu respondo: Por que só se fala em violência quando se é atingido diretamente por ela. Quando o lazer e diversão é atrapalhado por um tal desses Malandros.
  Os Malandros que roubam celular são os pequenos peixes habitantes de um oceano rodeado por Tubarões que abastecem todo o mal presenciado na sua praia. Mataram o irmão do rapaz que saiu do seu bairro e foi ao centro beber e chorar. NINGUÉM FEZ NADA!

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